Academia e Igreja no RN

A maior área pastoral católica do Rio Grande do Norte é constituída pela comunidade acadêmica, oriunda de quatro universidades, cinco centros universitários e mais de vinte instituições isoladas de ensino superior, sediadas nas três dioceses do estado.

Academia e Igreja no RN

Padre João Medeiros Filho


A universidade é o espaço do pluralismo e busca da unidade na diversidade.
Nela deve haver também lugar para Deus Uno e Trino. Em um dos seus
pronunciamentos, o Papa Francisco expressou: “Desejo que o diálogo acadêmico ajude
a construir pontes entre os jovens, de modo que cada um possa encontrar no outro, não
um inimigo, mas um irmão.” O fenômeno religioso é vivenciado pela juventude no
mundo acadêmico, em reflexões e manifestações de agnosticismo ou materialismo. A
chamada pastoral universitária deverá penetrar no ambiente crítico, apresentando a
dimensão religiosa como integrante da essência do ser humano. É missão do
cristianismo dentro da Academia.
A maior área pastoral católica do Rio Grande do Norte é constituída pela
comunidade acadêmica, oriunda de quatro universidades, cinco centros universitários e
mais de vinte instituições isoladas de ensino superior, sediadas nas três dioceses do
estado. Estão disseminadas em vários municípios potiguares, notadamente Natal,
Mossoró, Caicó, Assú, Currais Novos, Santa Cruz, Patu e Pau dos Ferros. Aqui não se
incluem cursos oferecidos a distância por instituições, sediadas fora do Rio Grande do
Norte. Estima-se uma população acadêmica superando cem mil alunos, seis mil
docentes e doze mil servidores técnico-administrativos.
Esses dados levam a pensar. Na década de 1980, o clero potiguar dispunha de
aproximadamente noventa presbíteros, dos quais um terço era docente universitário. À
época, havia pouco mais de trinta mil estudantes de nível superior. Hoje, o presbitério
norte-rio-grandense abrange cerca de trezentos padres, dos quais apenas dois são
professores concursados das instituições públicas de ensino superior e doze compõem o
corpo docente da UniCatólica do RN (Mossoró). Isso significa 5% do atual clero norte-
rio-grandense, exercendo o magistério de nível superior. Em quarenta anos, o alunado
mais que triplicou. Muitos recordam as aulas dos padres Nivaldo, Alair, Heitor, Assis,
Agnelo, Barbosa, Sátiro, Alcir, José Nobre, Alfredo, Agripino, Jaime Diniz (este último,
musicista pernambucano, que por um tempo lecionou na UFRN) etc. Havia presença e
testemunho dos docentes sacerdotes, admirados por alunos, professores, técnicos e
gestores.
Uma pastoral universitária – enquanto presença de Igreja – terá por tarefa e
objetivo difundir o pensamento cristão, a partir do diálogo com o mundo pluralista, ao
qual Cristo deverá ser anunciado. A Igreja cuidará de promover o desenvolvimento
humano e espiritual dos alunos, professores e servidores. Compreender o tecido social
contemporâneo é de grande valia para assimilar a relação entre a juventude e o
catolicismo no ambiente acadêmico. Uma pastoral – como forma de presença eclesial –
deverá dialogar com a população universitária, refletindo teologicamente, levando em
consideração o contexto em que cada um está inserido. Não basta uma catequese de
cunho proselitista, restringindo-se muitas vezes à liturgia e às orações devocionais. É
preciso ouvir os jovens para propor (e nunca impor) o projeto de Cristo. Isto exige
escuta, convivência e testemunho. Uma atividade pastoral dentro da Academia necessita
de uma reflexão vivencial, crítica e científica, à luz da razão e da fé.
Numa postura de diálogo e abertura, a Igreja deverá mostrar sua visão do mundo
e do ser humano, considerando o que os outros pensam e têm a dizer sobre
determinados temas. Não bastam discussões internas apenas entre os cristãos. É preciso
compartilhar opiniões convergentes e divergentes. A Igreja não poderá proceder como
age nas paróquias tradicionais, onde quase inexiste confronto de ideologias e credos. Ela
deve se fazer presente nos meios universitários, sem assumir uma postura meramente
apologética e sacramentalista, mas chamando a comunidade ao diálogo de temas, que
dizem respeito à vida e à doutrina cristã. No primeiro tipo de ação é possível ter sucesso
quantitativo. No segundo, haverá muito trabalho, talvez pouco resultado estatístico,
mas, certamente, as pessoas tomarão consciência de sua responsabilidade para a
promoção do bem comum e construção do Reino de Deus. Este inegavelmente
ultrapassa as fronteiras eclesiais. Dissera, de modo inspirado, o cardeal Dom Serafim
Fernandes, quando Grão-chanceler da PUC/MG: “Seja esta a preocupação da Igreja na

Academia: contribuir para a formação de exímios profissionais, excelentes seres
humanos e, na medida do possível, autênticos cristãos.” Cristo advertia: “Sois o sal da
terra, a luz do mundo” (Mt 5, 13-14).