Dengue: infectologista responde às principais dúvidas da população
Dr Evaldo Stanislau diz que principal motivo da alta é a mudança climática e acredita que o pico da doença ainda está por vir
Com mais de 1,2 milhões de casos pelo país, a dengue vem assuntando a população brasileira. Segundo o Ministério da Saúde, 192 municípios já decretaram situação de emergência e ainda nem chegamos no pico das infecções, que costuma acontecer entre os meses de abril e maio. Mesmo com a alta repercussão do tema, muitas dúvidas ainda acometem os brasileiros. Afinal, o país inteiro está enfrentaremos uma nova epidemia? Pensando em orientar a população, a Inspirali, principal ecossistema de educação médica do país, convidou o seu gerente de Pesquisa Acadêmica, o renomado infectologista Dr Evaldo Stanislau, para responder as principais dúvidas sobre o assunto. Confira:
R: Temos como principal motivo a mudança climática. Juntamente com a chegada do fenômeno El Nino, constatou-se uma onda muito forte de calor e também muita umidade. Essas duas condições já são suficientes para a progressão dos ovos na forma de larva e enfim o mosquito. Mas também existem outros fatores que explicam a alta nos casos. A pandemia de Covid mobilizou muito os recursos de saúde e com isso os programas de dengue acabaram ficando um pouco desguarnecidos, isso também deu chance para que a vigilância não fosse tão efetiva. Outro fator é a falta de imunidade de uma geração de pessoas. A população vai se sucedendo e muitas crianças e jovens não tiveram contato com o vírus enquanto pessoas mais velhas já tiveram dengue, de surtos anteriores, e assim possuem uma vacina natural de imunidade contra a doença. E, por fim, o próprio ciclo da dengue que de tempos em tempos passa por um crescimento natural.
R: Hoje temos quatro sorotipos diferentes. Se uma pessoa contrai um, ele já está protegido contra este mesmo para sempre. A circulação dos tipos 1 e 2 é mais comum, por isso muitas pessoas têm imunidade a eles. Os tipos 3 e 4 circularam menos e por isso temos mais pessoas susceptíveis. Nesse ano, o Brasil está registrando a circulação de vários sorotipos, em Minas Gerais, por exemplo, os 4 circulam simultaneamente, é isso aumenta a chance de formas graves.
R: Aedes Aegypti é um mosquito muito importante do ponto de vista médico. Ele transmite zika, chikungunya, dengue e febre amarela, sendo, assim, muito perigoso. Mas não é só ele que transmite a doença: quem traz o vírus é o ser humano infectado. A maioria das pessoas infectadas não apresentam os sintomas, mas não deixam de transmitir o vírus para o mosquito caso sejam picadas. O mosquito pica o ser humano e vai amplificando aquele vírus. Atualmente, a doença que vem preocupando a todos é a dengue, seguido da chikungunya, que corre em paralelo. A dengue tem uma característica clínica muito parecida com todas as outras arboviroses, e que é comum de certa forma para doenças infecciosas: febre, dor no corpo e mal-estar. Mas o que chama atenção é o momento epidemiológico. Qualquer pessoa que sinta algum sintoma, deve procurar orientação médica para fazer o diagnóstico clínico e epidemiológico. Quando estamos em uma epidemia declarada, o exame confirmatório fica menos importante.
R: A vacina contra a dengue é um grande avanço científico e logo teremos também a vacina contra a chikungunya. A falta de vacina para todos não é exatamente culpa de ninguém. O laboratório responsável não tem condições, por diversas questões, de fornecer o suficiente para toda a população e priorizou o fornecimento exclusivamente para o SUS. Mas mesmo que tivéssemos, só sentiríamos mesmo o impacto da vacina em meados de 2025, pois o processo ainda é longo entre você tomar todas as doses e estar protegido. Para este ano, é primordial focar nas medidas de proteção individual e de combate ao mosquito.
R: A pessoa que se sente doente, com um grande mal-estar, dor de grande intensidade, febre e manchas no corpo é bem provável que tenha dengue. O principal sintoma de um Covid ou gripe é respiratório e também incluem dor de garganta, tosse, nariz entupido. Mal-estar, febre e indisposição é comum em todos. Muita dor no corpo, dor atras dos olhos, mancha no corpo, dor de cabeça, vômito, dor muscular e nas articulações, primeira coisa é pensar que pode ser dengue. A pessoa infectada com dengue pode ter uma melhora em torno do terceiro dia de contaminação e depois aparecerem complicações como dor abdominal, falta de ar e pequenos sangramentos, na gengiva por exemplo. Nos últimos dias de infecção podem aparecer coceiras pelo corpo. Em casos mais graves, a doença vai continuar evoluindo e a pessoa começa a apresentar quadros como confusão mental, sonolência, queda importante da pressão arterial e até mesmo coma.
R: É uma doença desafiadora. Os sintomas geralmente são febre, erupções na pele, dores fortes, e as sequelas são piores. Não existe um tratamento específico para a doença. Muitas vezes é tratado com corticoides, que podem ter efeitos colaterais. É importante prestar atenção aos sintomas e procurar um posto de saúde
R: Não podemos usar medicamentos que potencializam o risco de sangramento e que podem fazer mal para o fígado. É o caso do ácido acetilsalicílico ou anti-inflamatório. Em geral, o fundamental é procurar ajuda médica desde os primeiros sintomas e cuidar da hidratação, pois o vírus da dengue provoca perda de líquido.
R: O quadro é dinâmico, mas o sudeste, sul e centro-oeste, além do Acre, estão mais acometidos.
R: Não necessariamente é o componente viral que desencadeia a gravidade da doença. Isso está muito mais relacionado a uma resposta imunológica. Pessoas que já tiveram dengue anteriormente estão mais suscetíveis a ter formas mais graves, pois você parte de uma resposta imunológica que não é zero, é uma resposta exacerbada. Cerca de 5% dos casos podem evoluir para dengue com complicações. Gestantes, doentes crônicos, idosos e crianças menores que dois anos são mais propensos a formas mais complicadas por características imunológicas, pelas doenças crônicas e por isso já são naturalmente pacientes de maior preocupação.
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