Um novo estudo divulgado pelo Observatório da Indústria Mais RN, núcleo de planejamento estratégico da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN), ressalta a importância estratégica da retomada do sistema ferroviário no estado. A publicação “Ferrovias RN: o caso Mossoró-Souza” traz informações relevantes para a reflexão sobre a retomada do uso de ferrovias como transporte de cargas e de passageiros.
A gestora de políticas públicas Mariana Fernandes, do Observatório da Indústria, destaca que a integração ferroviária é um projeto estruturante para o estado. “A retomada pode gerar um grande efeito multiplicador em atividades direta e indiretamente relacionadas e tem alto potencial para mitigar importantes desafios de logística de escoamento, resultando em um substancial impacto transformador sobre a economia estadual”, explica.
Entre os benefícios da implantação de ferrovias para o desenvolvimento do Rio Grande do Norte, está a integração logística para redução da dependência do transporte rodoviário e acesso a novos mercados. “Além da localização geográfica privilegiada, o estado possui uma vocação logística natural para servir como um hub de distribuição, em razão das diversas cadeias econômicas de relevância nacional e internacional que possui”, ressalta Mariana.
Devido à ausência do modal ferroviário, grande parte da produção potiguar é transportada via terrestre, com cerca de 92,3% da demanda logística do estado sendo atendida por caminhões, conforme estudos do Centro Internacional de Negócios da FIERN (CIN-FIERN).
A Nova Transnordestina
A publicação também destaca a importância da ferrovia Transnordestina no contexto do nordeste brasileiro. Considerada como um ambicioso empreendimento, a ferrovia foi concebida ainda na década de 1990 para integrar áreas produtivas do interior aos portos marítimos da região, com propósito central de facilitar o escoamento eficiente de diversos tipos de cargas, como produtos agrícolas, minerais e industriais, impulsionando o desenvolvimento econômico e a conectividade regional.
Atualmente, a malha ferroviária da Transnordestina conta com 815 km de trilhos consolidados, ligando o município de Eliseu Martins, no Piauí, a Acopiara, no Ceará, passando por Salgueiro, em Pernambuco. Até 2027, a linha deve chegar até o porto de Pecém, no litoral cearense.
O estudo aponta a reativação da linha Mossoró-Souza como caminho para integrar o Rio Grande do Norte à Transnordestina. Inaugurado em 1915, o trecho operou até a década de 1980, quando os serviços de transporte de cargas e passageiros ferroviários foram desativados no estado.
“O ramal Mossoró–Sousa representa um projeto de abrangência regional que vai além das fronteiras estaduais, contribuindo significativamente para o adensamento da integração produtiva do Nordeste, em especial, impulsionada pela Ferrovia Transnordestina”, destaca a gestora de políticas públicas do Observatório da Indústria Mais RN.
De acordo com Mariana, estudos apontam que, ao longo de 21 anos de operação, o trecho Mossoró–Souza teve um impacto substancial no crescimento econômico de Mossoró, elevando o PIB em 690%, enquanto o PIB industrial registrou um aumento de 1400%. “Além disso, a participação da indústria na economia local cresceu de 7% para 15%, evidenciando a importância estratégica dessa infraestrutura para o desenvolvimento da região”, acrescenta.
Em paralelo, a integração da linha Mossoró-Souza à Grande Natal também deve estar no radar para maximizar o desenvolvimento. Isso porque a região conta com a retomada dos investimentos no Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante, especialmente após a seleção da empresa Zurich Airport como concessionária do equipamento, e o Porto de Natal como importante infraestrutura para o transporte marítimo.
A especialista frisa que o cenário atual apresenta uma janela de oportunidades para o desenvolvimento do modal ferroviário, com regulamentação da Lei 14.273/21, que garante maior segurança jurídica para iniciativas de infraestrutura ferroviária; o Novo PAC Infraestrutura, que destina R$ 94 bilhões para investimentos em ferrovias; e a aprovação da Lei Complementar estadual 740/23, que regulamenta as Parcerias Público-Privadas no RN.
“Diante desses avanços regulatórios e dos investimentos previstos, há uma oportunidade única para impulsionar o setor ferroviário no Rio Grande do Norte, aproveitando os recursos disponíveis e criando um ambiente favorável para o crescimento e a modernização da infraestrutura logística no estado”, conclui.