RELEMBRANDO JOSÉ DISTINTO

Os exemplos deixados por Zé Distinto, de humanidade, de valorização da vida, de amor à cidade, de preocupação com a preservação da história cultural do município não poderão ser esquecidos.

RELEMBRANDO JOSÉ DISTINTO
Valério Mesquita*
Ainda revejo no seu rosto uma saudade suspensa no ar de tempos idos e vividos. Constituiu-se como a enciclopédia ambulante da ascensão e queda da fauna e do fausto da cidade. Conviveu com ricos e pobres. Mas, foi como gerente de um bar que surgiu o apelido Zé Distinto, pela cordialidade de trato abrangente e superlativa. Aí ele passou a se incorporar à geografia humana e sentimental da cidade. Era homem simples por trás do balcão de um amplo bar, no comando de fregueses heterogêneos, desde deputados, prefeitos, vereadores, funcionários, operários, motoristas, jogadores de baralho e vagabundos que a todos conhecia pelo nome, resumidos à humanidade comum. Relembrava fatos e guardava fotos de 1929, da visita de Washington Luiz a Macaíba, e de Getúlio Vargas em 1933, para inaugurar a antiga sede da prefeitura local.
Os exemplos deixados por Zé Distinto, de humanidade, de valorização da vida, de amor à cidade, de preocupação com a preservação da história cultural do município não poderão ser esquecidos. Como macaibense, não há alumbramento maior para mim do que caminhar com a sua memória pelas ruas desertas a conversar mentalmente com os fantasmas da cidade ou sonhar os sonhos dos casarões que ruíram. O seu desaparecimento me conduz a tudo isso como batedor fiel, timoneiro, ator e protagonista do passado e do presente. Um personagem extraído do Cine Paradiso, tenho certeza. Inesquecível.
Mas, o velho “historiador” Zé Fradinha encantou-se. Teve duas famílias. Com a primeira enviuvou de D. Bastinha. Empobreceu quando deixou o comércio e ficou sem recursos suficientes para viver. Daqui, conclamo os macaibenses que o conheceram, para não olvidarem o atendimento expedito e afetuoso, o seu bar repleto de frequentadores e o seu comando eficiente e ágil. Que se lembrem nesse instante de sua humildade e bonomia. Quem tanto serviu antes precisa ser homenageado para que o nome fique evocado numa rua da cidade. Onde o seu vulto hoje já passeia e se queda na Praça Augusto Severo, local do seu comércio.
*Escritor