O ABC perdeu a vitória, mas não a alma.*
Porque o que nos move não são as vitórias, são os sofrimentos que nos tornam fiéis.

Por Paulo Góis
Lá estávamos nós, meu amigo leitor, no meio da torcida alvinegra que fez bonito. Meu filho Paulo Emanuel, otimista; enquanto eu, atormentado pelo Sobrenatural de Almeida, que me fazia ficar apreensivo. Porque o torcedor do ABC não vê futebol; ele pressente. Ele não espera o gol adversário, ele o antevê — como quem vê o raio antes do trovão. E assim começava mais uma noite na Arena das Dunas, com a alma tremendo e o coração apertado de tanto amor.
Nosso time começou com um apetite de leão faminto. Três gols reluzentes e um jogador a mais: parecia até pecado desconfiar. Mas eu, que já vi o ABC perder final com a bola teimando em bater na trave, não me iludia. A alegria ali era um cristal em cima da mesa de sinuca: bastava um sopro do Maringá para tudo ir ao chão. E foi. O Maringá, esse time que veio do Paraná como quem não quer nada, ressuscitou aos 20 do segundo tempo e empatou o jogo como um cadáver que se levanta no meio do velório.
E então, meu caro, restou-nos a velha sina de torcedor alvinegro: roer as unhas até o toco e amar o ABC, apesar de tudo. Porque o que nos move não são as vitórias, são os sofrimentos que nos tornam fiéis. O time agora soma duas vitórias, duas derrotas e nove empates, uma campanha que não nos dá orgulho, mas nos faz ter força e fé. Quem ama o Mais Querido sabe: esse sofrimento é só o trailer. O final feliz — mesmo que de maneira trágica e heroica — ainda pode vim. E, se não vier, a gente ama o ABC do mesmo jeito.