Somos todos ilhas digitais?
"Tratado comunista de Elon Musk"

Paulo Góis
Outro dia, me peguei pensando no tamanho do mundo — e na pequenez das nossas certezas. A pergunta surgiu do nada, como quem interrompe o silêncio com um empurrão: Qual é o nosso verdadeiro nível de solidariedade? Daí veio a avalanche. Será que a gente deseja, de verdade, que todo mundo tenha acesso à saúde, educação, cultura, lazer, moradia, emprego e bens de consumo, ou seja, dignidade? Ou será que começamos a fazer ressalvas logo depois do “todo mundo” e consideramos mais importantes aspectos como as crenças religiosas, a orientação de gênero, a raça, a etnia, a genealogia e a origem regional dessas pessoas?
Talvez seja mais fácil torcer pelo bem coletivo quando esse coletivo se parece conosco. Quando fala como a gente, reza igual, ama igual, vota igual. Mas e quando não? Será que nossa empatia tem CEP, cor de pele ou sobrenome?
Esses dias, topei de novo com aquela frase batida e genial: “Nenhum homem é uma ilha”. E, como toda boa frase batida, ela volta de tempos em tempos para nos cutucar. Talvez a gente esteja mesmo virando pequenas ilhas — imersos em algoritmos, cercadas de muros, câmeras e certezas absolutas por todos os lados.
Enquanto isso, lá fora, o mundo grita. Grita nas esquinas, nas favelas, nos ônibus lotados, nos hospitais sem leitos. Grita na falta. E nós, ilhados, tentamos silenciar esse barulho com fones de ouvido, séries e grades. Mas não dá pra fugir do eco. A violência, que tanto assusta, é muitas vezes só a resposta amarga de uma estrutura que exclui mais do que inclui. Um sistema que prende uns pela miséria e outros pelo medo.
No fundo, estamos todos na mesma jangada. Uns com colete salva-vidas, outros segurando o ar nos pulmões. Mas o mar é o mesmo. E, mais cedo ou mais tarde, ou a gente aprende a remar junto, ou afunda todo mundo.